terça-feira, 23 de setembro de 2014

Daniel (Através da Bíblia)

Daniel
Olá amigo estamos iniciando mais um programa da série Através da Bíblia e nos sentimos muito contentes por você estar nos dando o privilégio da sua audiência. Você que tem nos acompanhado durante essa nossa jornada diária sabe que estamos caminhando firme com o nosso projeto de estudar toda a Bíblia em cinco anos, em aproximadamente 1.300 programas e também de publicar os comentários que fazemos a partir do programa. É um projeto desafiador, mas o Senhor tem nos abençoado e certamente nos dará condições de levarmos adiante o estudo da Sua Palavra. Parte da certeza de que estamos caminhando com segurança vem de vocês mesmos, que tem nos acompanhado nessa jornada. As correspondências que vocês nos enviam nos mostram que estamos caminhando na direção certa. E, hoje nos sentimos alegres por iniciarmos os estudos numa nova porção da Bíblia, os profetas maiores e especificamente as profecias registradas pelo profeta Daniel. Nos alegramos também pelas correspondências que vocês nos enviam e pela possibilidade de compartilharmos dos seus momentos de experiências com Deus através do programa. Hoje eu registro o e-mail que o Gilmar nos enviou da cidade de Mesopólis, no estado de São Paulo. Foram essas as suas palavras: “É com muita alegria que eu estou escrevendo ao irmão Itamir Neves, agradecido a Deus pelo seu programa que tem sido uma benção de Deus na minha família. Ele tem enriquecido e ampliados os nossos conhecimentos da palavra de Deus. Meu prezado irmão, que Deus te abençoe em toda a sua trajetória do seu vasto ministério, juntamente com a sua família.” Gilmar José da Silva - Mesópolis / SP – email. Querido irmão, querido amigo, obrigado por você compartilhar conosco o seu testemunho e o seu interesse em ouvir o nosso programa juntamente com sua família. Nós louvamos a Deus que tem usado este programa para ajudá-lo a conhecer mais a Palavra de Deus. Assim como tem acontecido com você, agradecemos porque Deus tem usado o programa para encaminhar muitas vidas, levando-as ao conhecimento do evangelho de Jesus Cristo e, também tem atingido irmãos fortalecendo-os e incentivando-os a se manterem compromissados com o nosso Senhor. Bendizemos o Senhor por sua graça e misericórdia em nos usar. Agora quero convidar você, sua família e a todos os que estão me ouvindo nessa hora a buscarmos a presença de Deus numa palavra de oração: “Pai querido chegamos à tua presença agradecidos pelo privilégio de podermos falar contigo e termos certeza que tu ouves as nossas orações. Queremos te pedir que, conforme a tua vontade o Senhor atenda o anseio que vai em todos os corações que te buscam nessa hora. Pedimos-te também a iluminação do Teu Espírito para esses estudos em Daniel que iniciamos hoje. Pedimos a tua bênção sobre o projeto de estudarmos toda a Bíblia. Ajuda-nos. Oramos em nome de Jesus Cristo, Amém!
Querido amigo hoje começamos uma nova etapa em nossos estudos através da Bíblia. Iniciamos o estudo do último profeta denominado “profeta maior” do Antigo Testamento, iniciamos o estudo das profecias de Daniel. Por ser essa etapa dos nossos estudos, uma nova etapa, onde se caracteriza a “literatura apocalíptica” é necessário entendermos como devemos estudá-la adequadamente. Isso é necessário, pois, como a Bíblia é composta por vários estilos de literatura, é necessário que tenhamos clareza quanto ao método de interpretação das diversas passagens que teremos pela frente.
Nesse programa, como fiz ao iniciarmos os estudos dos profetas, desejo recordar com você algumas considerações sobre maneira pela qual temos usado o Antigo Testamento e depois fazer outras considerações sobre a “literatura apocalíptica”. Inicio essas observações dando-lhe o seguinte título:

O RELACIONAMENTO DA IGREJA CRISTÃ COM O ANTIGO TESTAMENTO

Vamos fazer cinco considerações a esse respeito:

1) A importância do Antigo Testamento para a igreja. Conforme nos diz J. Shreiner (2.004, p.435) “O Antigo Testamento não é um simples livro da antiguidade ... Ele é, junto com o Novo Testamento, o livro da igreja, uma fonte de primeira importância para a nossa fé cristã. Em nosso tempo a sua importância é ainda maior ... pois sabemos que o Antigo Testamento é a única Bíblia que Jesus leu e conheceu. Por isso a igreja contemporânea tem que ter consciência dessa importância.

2) O uso do Antigo Testamento pela igreja. A igreja vem usando mal o Antigo Testamento. Vemos, principalmente em alguns movimentos a utilização do Antigo Testamento como um amuleto, um livro onde se retira mensagens fora dos seus contextos e aplica-se à igreja. Normalmente estas mensagens visam a prosperidade e a vitória, não se considerando a situação histórica das palavras registradas.

3) A desvalorização da interpretação segura do uso do Antigo Testamento. O Antigo Testamento vem sendo muito usado na igreja como fonte de pregação, mas, infelizmente, ele tem sido usado de forma negligente quanto ao sentido original do texto veterotestamentário. A desvalorização e a má interpretação tem sido características marcantes. Textos são retirados dos seus contextos quebrando princípios básicos da hermenêutica bíblica.

4) As promessas infundadas baseadas no Antigo Testamento. Infelizmente esse é mais um caso de má interpretação. Frases como “eu também sou filho do rei”; “você não é cauda, mas você é cabeça”; “onde a planta do teu pé pisar esse lugar é teu”; “Deus já te deu, tome posse”; “se você contribuiu você pode exigir de Deus” são expressões que tem como base versos e textos do Antigo Testamento e inflamam o público e deixam os imaturos esperançosos com promessas que não foram dadas por Deus para quem vive na época da Nova Aliança. O ufanismo e a vitória a qualquer custo são proclamados, mas se esquece de proclamar que o povo desobedeceu e que Deus os disciplinou duramente tirando-o da terra prometida. Só é possível uma vida vitoriosa a partir da ação do Espírito Santo em nós.

5) A necessidade do Antigo Testamento para a igreja contemporânea. É bom lembrarmos que o cristianismo tem uma ligação estreita com o Antigo Testamento e o cumprimento de muitas promessas antigas deram origem à Nova Aliança. A mensagem profética do Antigo Testamento repercute em todas as páginas do Novo Testamento. Ora, se é assim, temos que perceber que essas ênfases devem ser proclamadas de modo correto com a finalidade da igreja crescer e amadurecer.
Querido, amigo, diante dessas colocações o que fazer e como estudar o Antigo Testamento? Aqui temos algumas observações que merecem ser conhecidas e consideradas. Essas implicações práticas foram alistadas pelo professor Luiz Saião, do Rota 66. São sete essas observações que mostram:

A CONFUSÃO EVANGÉLICA DIANTE DO ANTIGO TESTAMENTO

A igreja evangélica brasileira é uma das mais dinâmicas e criativas do mundo. Por essa razão seu crescimento tem sido extraordinário. Todavia, uma igreja jovem e efervescente tem dificuldades de doutrinar e discipular seus novos membros. Essa é uma realidade na igreja brasileira. É notório que o uso do Antigo Testamento na prática e na liturgia eclesiástica brasileira tem crescido de maneira substancial. Principalmente no contexto de louvor e adoração a ênfase véterotestamentária é mais do que expressiva. E como percebeu Lutero, a teologia de uma igreja está em seus hinos. Afinal, o que está acontecendo? Para onde estamos indo?

Em 1º lugar, é preciso ressaltar que o Antigo Testamento representa um fascínio para o povo brasileiro. É repleto de histórias concretas, circunscritas na vida real do povo, no cotidiano de gente comum. Para o brasileiro médio, é muito mais fácil emocionar-se com uma narrativa como a de Jonas ou de Davi do que acompanhar o argumento de Paulo em vários textos de Romanos.

Em 2º lugar, o povo brasileiro tem pouca história e raízes muito recentes. O Antigo Testamento, com a rica história do povo de Israel, traz uma espécie de identificação com o povo de nosso país. Talvez isso explique porque tantos brasileiros evangélicos queiram ou procurem ser mais judeus.

Em 3º lugar, devemos considerar a realidade de que a igreja evangélica brasileira quase não tem símbolos ou expressão artística. A maioria dos símbolos cristãos históricos (catedrais, cruzes, etc.) tem identificação católica na realidade nacional. Assim, os evangélicos buscam símbolos para expressar sua fé, e acabam geralmente escolhendo símbolos judaicos ou véterotestamentários (menorá, estrela de Davi, e etc.).

Essas considerações são importantes para que a igreja brasileira não perca o rumo por problemas de ordem hermenêutica. Aqui vão as observações que merecem nossa reflexão:

1. Nem todo texto bíblico do AT pode ser visto como normativo.

2. Devemos ensinar que muito da teologia do AT é ultrapassada.

3. Antes de pregar ou cantar um texto do AT é preciso entendê-lo

4. Devemos ensinar que vingança e guerra não são valores cristãos
Jesus ordenou que devemos amar até mesmo aqueles que nos odeiam. Não podemos cantar "persegui os inimigos e os alcancei, persegui-os e os atravessei" (Sl 18.37.38).

5. Enfatizemos a verdade de que a adoração do NT é Superior A tradição evangélica sempre louvou a Deus por seus atos e atributos. Atualmente estamos cada vez mais enfatizando “o monte santo”, “a cidade sagrada”, “a casa de Deus”, “a sala do trono”. Nós somos o “templo de Deus”. Os elementos materiais pouco importam na adoração genuína. É preciso retomar o caminho correto.

LITERATURA APOCALÍPTICA
Muito bem, depois dessas considerações, para entendermos bem o livro de Daniel é importante conhecermos alguns detalhes sobre a “literatura apocalíptica”.
Para os seus primeiros leitores, o livro de Daniel foi uma mensagem fácil de ser entendida. E pode ser o mesmo para nós. Só temos que saber como decodificá-lo. Assim fazendo, sua leitura se torna adequada, trazendo lições práticas para quem vive no século 21, apesar da distância que nos separa de Daniel, e do seu contexto como um judeu no exílio. Para isso é preciso entender, inicialmente, o que significa a "literatura apocalíptica".

A Literatura Apocalíptica Para os Crentes da Antiga Aliança

Quando falamos sobre literatura apocalíptica lembramos imediatamente do livro de Apocalipse. Porém temos que saber que, antes do livro do Apocalipse ter sido escrito por João, já existiam trechos nos livros proféticos que apresentam claramente as características desse tipo de literatura. É o caso do livro de Isaías 24-27; Ezequiel 1-2; Joel 2-3. Daniel, igualmente, é um profeta com características profundamente apocalípticas, como pode ser visto nos seus diversos capítulos, o mesmo acontecendo com Zacarias, o penúltimo livro do Antigo Testamento. A partir do capítulo 1, há uma série de visões: oito ao todo até o capítulo 6. Mas que características são estas da chamada literatura apocalíptica? Entendamos: um livro apocalíptico não é para ficar fechado e sem compreensão. Pelo contrário, o próprio nome da literatura já diz o seu objetivo. Apocalipse é uma palavra grega que se traduz como "revelação", como pode ser conferido em Apocalipse 1.1, a abertura do livro que explica de quem vem a revelação: "de Jesus Cristo"!
As principais características dessa literatura são o uso constante de números, cores, animais (alguns extrema e curiosamente estranhos e amedrontadores), cidades, pessoas, tudo muito simbólico, mas plenamente adequado.
Para o antigo Israel, o centro de atenção era a própria nação e a defesa de sua fé, de sua Lei, de sua existência como povo escolhido por Deus. No Novo Testamento (que é a nova aliança baseada no sangue de Jesus Cristo), o centro de interesse é a Igreja, sua fortaleza e vitória, apesar de tudo: das perseguições, das heresias, dos martírios, do sangue derramado. O livro quer enfatizar que, apesar dos pesares, somos vencedores, com a vitória garantida por Deus, e, posteriormente, por Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores!
A “literatura apocalíptica” é um gênero literário que encontra representantes tanto na literatura canônica, quanto fora dela.
Na literatura canônica, destaca-se Daniel no Antigo Testamento; e o Apocalipse de João no Novo. Naturalmente, existem outros textos com características nitidamente apocalípticas

A literatura apocalíptica distingue-se da profecia por vários aspectos, entre eles mencionamos:

1) o caráter esotérico,
2) o sofrimento dos santos aliado à esperança de libertação final mediante intervenção divina,
3) o grande julgamento intervindo na história,
4) a vinda do futuro não como conseqüência do presente, e,
5) a visão dos ímpios como adversários de Deus.

Origens do gênero apocalíptico

“A literatura apocalíptica foi o resultado de uma esperança invencível e indestrutível que tomou conta do coração do povo de Deus, numa época de crise”. Se fizéssemos uma vasta pesquisa nos exemplos citados, inclusive entre os não canônicos, perceberíamos quanto a literatura apocalíptica se faz presente como fator gerador de esperança entre aqueles que passam dificuldades.
Devemos recordar que em 586 aC., Jerusalém tinha sido destruída, e muitos israelitas estavam exilados. Neste contexto surgiu um movimento reformador com duas tendências, que são antecessoras daquele que ficou designado como apocalíptico.

A primeira foi dirigida pelo grupo sacerdotal sadoquita, seu projeto era a reconstrução do Templo e do culto, como meios de restauração do povo.

A segunda, caracterizada pelo profetismo popular, baseava-se na escatologia apocalíptica, e visava a reconstrução do povo sem necessariamente reconstruir as estruturas. O movimento apocalíptico é a continuação histórica desta tendência.

Muito tempo depois, nos dias do Novo Testamento, por volta de 90 d.C., a Igreja cristã começou a sofrer perseguição de forma mais intensa por parte do Império Romano. Uma vez mais, em uma situação de crise fez-se uso do gênero apocalíptico para confortar o povo, e assegurar-lhe a esperança da intervenção divina em seu favor.
Então, como podemos observar, a “literatura apocalíptica” surgiu como uma resposta, uma reafirmação da certeza de que apesar das dificuldades momentâneas, no final, Deus conduziria seu povo à vitória; e, além disso, a “literatura apocalíptica” surgiu da necessidade de divulgar as mensagens de Javé por meio de símbolos, uma vez que o Seu povo se encontrava em perigo, o que se tornou uma espécie de marca registrada do gênero.

A literatura apocalíptica no Antigo Testamento

No Antigo Testamento, encontramos alguns representantes deste gênero, e, dentre eles destaca-se Daniel, cujo “autor reviu a história da época do exílio ao seu momento presente. Ele pretendia confortar e encorajar seu povo (...) o próximo passo só poderia ser a intervenção pessoal de Deus em favor do povo.
O encorajamento ao povo tão necessário em uma hora de crise contribuía para enfatizar a idéia do remanescente fiel, bem como nutrir a esperança messiânica. Convém esclarecer, que esse messianismo presente naquela região, carregava consigo fortes conotações políticas.

1.3  A literatura apocalíptica no Novo Testamento

Como constatamos pelo estudo, o gênero literário apocalíptico, tem representantes também fora das fronteiras canônicas. Na literatura extra canônica existem vários exemplos do gênero, citamos: O Apocalipse de Baruc, o Livro dos Jubileus, os Oráculos Sibilinos, os Salmos de Salomão, a Assunção de Moisés, o Apocalipse de Enoque, a Vida de Adão e Eva, o Apocalipse de Abraão, o Apocalipse de Pedro, o Apocalipse de Paulo, o Apocalipse de Tomé, e o Pastor de Hermas.60
No Novo Testamento encontramos o maior, e mais típico representante deste gênero, o Apocalipse de João, que retrata a perseguição da Igreja, e a sua vitória associada à do seu Mestre que ressuscitou.
Outros textos, com indicações deste gênero no Novo Testamento, são: Mateus 24-25; Marcos 13; Lucas 21.5-36; 1Coríntios 15; Gálatas 1; Efésios 6.10-20; 1 Tessalonicenses, especialmente 4.13-5.11; 2 Tessalonicenses 2.1-12; Judas.30 E, à época em que surgiu o Cristianismo, esse estilo apocalíptico já era conhecido; eventualmente, a Igreja cristã fez uso dele para conservar e propagar a sua mensagem, quando os poderes dominantes a ela se opuseram.
Portanto, para os cristãos, como para os judeus, a literatura apocalíptica foi uma forma de resistir às dominações que se impunham, ao tempo em que as forças para resistir eram renovadas.
Isso nos conduz a uma reflexão sobre o momento presente, e suas dificuldades; bem como sobre o grande desafio para a Igreja, sobre como prosseguir em sua caminhada rumo a eternidade apesar das grandes dificuldades que ela enfrenta.

Daniel e a literatura apocalíptica

No estudo que faremos desse livro vamos perceber que embora Daniel tenha feito uso desse tipo de literatura, quando comparado aos outros profetas ele é um livro único, singular. Como afirmam Arnold & Beyer (2001, p.429) os outros profetas vêem o futuro da perspectiva de Israel e das promessas de Deus para o seu povo. Mas o ponto de vista de Daniel é diferente. Ele considerou os impérios mundiais seculares à luz dos propósitos finais de Deus e descreveu o reino de Deus que ainda chegaria. Quando descreveu o futuro, Daniel usou um panorama universal.
O propósito de Daniel não era chamar os leitores a se arrependerem e buscarem uma nova vida, como os outros profetas. No seu livro, Daniel chama o povo para ser fiel e obediente mesmo em tempos de dificuldade, mostrando que o Senhor e aqueles que o temem terão a vitória final.
Por isso, o meu convite a você é que me acompanhe por vinte programas no estudo desse precioso livro. Minha oração é que Deus abra a sua mente e o seu coração para perceber o seu poder e a segurança que podemos ter nele. Embora soframos tribulações e dificuldades o nosso futuro está garantido, no Senhor.
Que Deus te abençoe,
Um grande abraço e até o próximo programa.

© 2014 Através da Biblia

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