quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ABRAÃO E SUA FAMÍLIA

(Gênesis 11:26 a 25:11)

            Abraão foi convocado a deixar o seu país natal, a sua parentela e a casa de seu pai e partir para uma terra a qual Deus lhe mostraria (Gênesis 12:1). Nessa passagem, encontramos três círculos familiares, cada vez mais fechados. Certamente que o chamado incluía a própria família de Abraão, pois está presente a idéia de “tu e tua casa”. Parece que o sobrinho Ló, provavelmente solteiro, foi incluído na convocação. Gênesis 11:31-32 segue historicamente a Gênesis 12:1.

            A princípio, Abraão deixou a sua terra e a sua parentela, mas não a casa de seu pai, Tera. Este também mudou-se e ainda era o patriarca do clã, porém só chegou até Harã, onde morreu. A partir daí, Deus tornou Abraão livre, e ele pôde seguir caminho com os seus, segundo a ordem divina.

            Os historiadores tendem a passar por alto as faltas e o lado ruim das celebridades. A Bíblia não procede assim. Gênesis 12 mostra-nos um triste página da vida de Abrão e Sara. Para proteger a si mesmo, ele propôs a esposa ocultarem o fato de que eram casados, sugerindo que passassem por irmãos. Era meia verdade, mas, como quase sempre acontece, tratava-se, na realidade, de uma mentira. A manobra teve êxito, mas esse crente, por sua vergonhosa atitude, acabou repreendido por um incrédulo.

            Deus fez o homem diferente da mulher, com qualidades, tarefas e domínios de responsabilidade distintos. Deus espera do homem que aja como cabeça da família, que ame a sua esposa, que cuide dela e a proteja. Da mulher, espera que aceite esse líder e se sujeite a ele. Referente a isso, Sara é apresentada como exemplo para as outras mulheres (1 Pedro 3:6).

            Abraão, no entanto, não agiu impulsionado pelo amor a Sara. Ele não cumpriu o seu dever de protetor para com ela. Agiu com egoísmo, preferindo deixar que a esposa sofresse, contanto que ele se saísse bem.

            O homem pode ser tremendamente egoísta. Exige que a esposa faça o que lhe parece ser a ele devido, sem se preocupar com o que ela possa sofrer como conseqüência de sua maneira de agir. Isso não é outra coisa senão amor-próprio. Tal atitude prejudica qualquer casamento.

            No caso citado, surpreende-nos a abnegação com que Sara aceita o seu destino e se conforma com a proposta do esposo para salvá-lo. Mais tarde, Abraão voltou a cometer esse erro, demonstrando quão arraigada estava em seu coração essa atitude pecaminosa. Em Gênesis 20, lemos que partiu dali para a terra do Neguebe e habitou em Gerar, onde ficaram expostos a idêntico perigo. De novo negaram ser esposos e insistiram em que eram irmãos. Em conseqüência, o rei de Gerar, Abimeleque, mandou buscar Sara. Graças à intervenção de Deus, a união de Abraão e Sara foi preservada — mediante um sonho, Abimeleque foi-lhe revelada a verdadeira relação entre ambos. Desculpou-se de sua conduta, lembrando-os de que haviam declarado que eram irmãos. No sonho, Deus lhe dissera: “Bem sei que com sinceridade de coração fizeste isso; daí o ter impedido eu de pecares contra mim e não te permiti que a tocasses. Agora, pois, restitui a mulher a seu marido, pois ele é profeta” (vv. 6-7). Abimeleque obedeceu. No dia seguinte, contudo, chamou Abraão e repreendeu-o por aquela atitude. O rei pagão fez-lhe esta incisiva pergunta: “Que estavas pensando para fazeres tal coisa?” (v. 10).

            Abraão respondeu: “Eu dizia comigo mesmo: Certamente não há temor de Deus neste lugar, e eles me matarão por causa de minha mulher. Por outro lado, ela, de fato, é também minha irmã, filha de meu pai e não de minha mãe; e veio a ser minha mulher. Quando Deus me fez andar errante da casa de meu pai, eu disse a ela: Este favor me farás: em todo lugar em que entrarmos, dirás a meu respeito: Ele é meu irmão” (vv. 11-13). Essa confissão revela que Abraão estava decidido a cometer aquele pecado havia muitos anos, desde que saíra de Harã. Ali estava a raiz do mal.

            Abraão ainda não havia alcançado o nível de fé evidenciada mais tarde. Mediante sucessivas experiências, descritas nesses capítulos, sua fé cresceu e se fortaleceu. As promessas divinas repetiram-se e progressivamente se fizeram mais precisas. Primeiro, Deus fez menção de sua descendência (12:7); em seguida, deixou evidente que ele teria um filho (15:7); finalmente, afirmou que esse filho nasceria de sua mulher Sara (18:10). Depois disso, a fé de Abraão tornou-se forte o suficiente para que Deus pudesse prová-lo como homem algum jamais fora experimentado.

            Em Gênesis 22:1-3 lemos: “Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este lhe respondeu: Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei. Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado”.

            Penso que crente algum enfrentou situação semelhante à de Abraão. De um lado, estava a promessa de que Isaque seria um grande povo, e, de outro, a ordem para que fosse sacrificado. Como solucionar tal contradição? Hebreus 11:19 tem a resposta: “Considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos”. Aqui resplandece uma fé que supera tudo que possamos imaginar. Nisso Abraão é um exemplo para todos os crentes de todos os tempos.

            Consideremos agora o que está escrito no tocante a Sara. Ela deve ter sido uma mulher muito atraente. Sua beleza era tal que, naquelas terras pagãs, não seria surpresa se outro homem tentasse tomá-la para si. O Antigo Testamento não nos dá nenhuma informação sobre sua vida de fé. Para ela, era difícil aceitar o fato de ser estéril. Várias vezes encontramos essa aflição nos lares descritos na Bíblia. Hoje, muitas mulheres padecem da mesma tristeza. Na dependência do Senhor — pois quem permite a esterilidade pode também aceitar as orações dos Seus (1 Samuel 1:5; Gênesis 25:21) —, todavia, é possível receber, em muitos casos, ajuda médica eficaz. A causa da esterilidade nem sempre depende da mulher, e uma intervenção cirúrgica no homem pode dar resultado. Adotar uma criança pode ser uma solução, ainda que nem sempre isenta de inconvenientes. Mas também vejo com freqüência casais sem filhos realizarem a obra do Senhor com uma eficiência que jamais lhes seria possível se tivessem filhos.

            Contudo, temos de advertir contra métodos imorais, a saber, pecaminosos. Por exemplo, a mulher cujo esposo é estéril e recorre à inseminação artificial, valendo-se de um doador, com ou sem o consentimento do marido. Em alguns países, onde a poligamia é permitida, uma nova esposa pode ser a solução quando a primeira é estéril. Mas, no governo de Deus, essa prática quase sempre é seguida de efeitos nocivos.

            E essa foi a proposta feita por Sara ao marido (Gênesis 16). É provável que ela estivesse a par da promessa de Gênesis 15:4, mas o casal ignorava ainda o fato de que o filho nasceria de Sara (18:10). Isso pode servir de justificativa para ela, mas não é motivo para aprovarmos tal solução.

            Em 1 Pedro 3:5-6, Sara é mencionada como exemplo para as mulheres crentes, devido à sua sujeição ao marido. E, se alguém encontra nisso motivo para pensar que ela era mulher de limitada iniciativa, servil e de pouco caráter, está enganado. Deus entregou Eva a Adão a fim de que fosse para ele uma auxiliadora idônea. Era do mesmo nível que ele, a mesma coisa podemos dizer de Sara e Abraão. Que ajuda um homem recebe da esposa se tudo o que ela sabe fazer é dizer “sim” toda vez que ele lhe propõe algo?

            Contudo, a solução proposta por Sara não foi de ajuda para Abraão. Melhor que não a tivesse escutado. Em Gênesis 30, descobrimos que Raquel fez o mesmo. Em ambos os casos, o filho da serva era contado como da senhora. Propostas como essas não são fruto da fé. Pelo contrário, evidenciam tremenda falta de confiança em Deus.

            O nascimento de Ismael, filho da escrava egípcia Agar, foi motivo de muita tristeza. Sara, ao se sentir ofendida com o comportamento de sua serva, fez injustamente censuras ao esposo. Não obstante, ele lhe deu toda liberdade para maltratar a serva, e ela o fez.

            Nessa época, Abraão era da idade de 85 anos, e não era tão velho como em Gênesis 18, quando tinha cem, e Sara, noventa. Abraão creu na promessa divina, mas Sara demonstrou claramente a sua incredulidade.

            Gênesis registra um comportamento marcante de Sara. Por duas vezes ela tomou a iniciativa de dar conselho ao esposo, sem que ele o solicitasse. O primeiro, como já vimos, foi ruim, porque provinha da incredulidade. O segundo encontra-se em Gênesis 21:10: “Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não será herdeiro com Isaque, meu filho”. Esse conselho foi mal recebido pelo patriarca, pois “pareceu isso mui penoso aos olhos de Abraão”. Porém estava equivocado. Deus lhe disse: “Atende a Sara em tudo o que ela te disser” (v. 12). Nesse assunto, ela demonstrou ter melhor entendimento que o marido.

            Aproveitamos para recordar aos maridos crentes a importância que podem ter para eles os conselhos e as opiniões da esposa.

 

Questões relativas à família nº 4

 

1) Como Deus chamou Abraão e de que maneira o guiou à obediência? De que maneira age Deus hoje em dia com os Seus filhos?

2) Em que circunstâncias Abraão agiu de forma errada com relação à esposa? Por que fez isso?

3) Em que passagem lemos mais sobre o problema da esterilidade?

4) Em que momento fracassou a fé de Sara?

5) Em que sentido Sara é exemplo para as mulheres crentes?

6) Quais os resultados da união com Agar?

7) Que bom conselho Sara deu ao esposo e qual foi o mau conselho?

8) Busque na Bíblia outros exemplos em que a esposa tem boa ou má influência sobre marido.

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