(Gênesis 27 a 34)
Deus manifestou-se como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Que Deus se chame a Si mesmo o Deus de Abraão, podemos entender, porque pela fé este patriarca seguia o seu caminho com Deus, e Deus chamou-o Seu amigo (Tiago 2:23) e lhe revelava Seus propósitos. Tampouco é de se admirar a expressão “o Deus de Isaque”. Mas o fato de que Ele não se envergonhou de se chamar o Deus de Jacó é maravilhoso demais. Vemos nisto a Sua graça infinita. Que prazeroso recordar que nós também temos o Deus de Jacó como nosso auxílio (Salmo 146:5).
A primeira coisa que a Bíblia relata a respeito de Jacó é o fato de que ele enganou o seu pai, que era cego (Gênesis 27:1-29). A última referência a Jacó, no entanto, é que ele, pela fé, abençoou os seus filhos (Gênesis 49; Hebreus 11:21). Entre estes dois incidentes teve lugar a história de sua longa vida e a de sua família, uma história de queda e restabelecimento.
Estas experiências comprovam as palavras do Salmo 99:8: “Foste para eles Deus perdoador, ainda que tomando vingança dos seus feitos”. Esta é uma importante lição para nós e para as nossas famílias. Quando confessamos nossos pecados, podemos contar com o gracioso perdão de Deus. Contudo, em Sua justiça e nos caminhos de Seu governo, Ele faz com que arquemos com as conseqüências de nossos pecados.
O fato de Jacó deixar a sua casa foi conseqüência da conspiração enganosa em que ele se envolvera. Apesar disto, Deus lhe apareceu em Betel num sonho e lhe fez ricas promessas. E Jacó fez o voto de que, quando regressasse àquele lugar, ofereceria um sacrifício ao SENHOR (Gênesis 28:10-22).
No capítulo 29, lemos como Jacó – o enganador – também foi enganado por seu tio Labão, outro embusteiro, que lhe prometeu sua filha Raquel em troca de sete anos de trabalho. Contudo, quando estes anos se cumpriram, Labão lhe entregou Lia. É verdade que Jacó também recebeu Raquel, a quem amava, mas por outros sete anos de trabalho. O aspecto trágico é que estas duas irmãs tiveram de conviver com um mesmo esposo. O relato bíblico narra a terrível discórdia que sobreveio à casa de Jacó por causa disso. Muito tempo depois, mesmo quando a poligamia era tolerada em Israel, um casamento nestes moldes foi proibido (Levítico 18:18). Acrescente-se ainda que as duas esposas, com ciúmes uma da outra, forçaram Jacó a coabitar com suas respectivas servas. Foi assim que ele chegou aos seus doze filhos e à sua filha Diná.
Embora tenham se passado tantos anos, Jacó temia encontrar Esaú. Novamente ele demonstrou ser calculista e astuto, para que o reencontro fosse bem-sucedido. Quando, à noite, ficou para trás e sozinho perto do ribeiro, Deus lhe apareceu “mostrando-se inflexível com o perverso” (Salmo18:26) – na forma de um anjo.
Outras passagens do Antigo Testamento falam do Anjo doSENHOR ou de Deus. É possível que tenha sido somente durante essa luta que Jacó tomou conhecimento do opositor com quem estava lutando. Ali o enganador Jacó foi quebrantado. Mais tarde, o profeta Oséias disse: “Lutou com o anjo e prevaleceu; chorou e lhe pediu mercê” (Oséias 12:4). Mas então Jacó também pôde orar: “Não te deixarei ir se me não abençoares”. Sua oração foi respondida, e Deus substitui seu nome Jacó (usurpador) por Israel (lutador de Deus – Gênesis 32:22-32). Bem-aventurado todo o cristão que, pela graça de Deus, encontra o seu “Peniel”!
Antes, no capítulo 30, nos são relatados muitos acontecimentos na família de Jacó, particularmente os enganos recíprocos entre Jacó e seu tio. Quando também os filhos de Labão adotaram uma atitude inimiga contra Jacó, Deus ordenou que ele retornasse à terra de sua parentela.
Ao fugir enganosamente de seu tio, ocasião em que Raquel ainda roubou os deuses de seu pai, Jacó atraiu sobre si a ira de Labão. Este o perseguiu e o encontrou e, depois de mútuas acusações, firmaram uma aliança de paz (31:44). No capítulo 33 é-nos apresentada a superficial reconciliação entre Jacó e Esaú, e a continuação de sua viagem até Siquém, passando por Sucote.
No capítulo 34 lemos como Diná, a filha de Jacó, foi violada por Siquém. E como seus irmãos Simeão e Levi vingaram-na recorrendo à mentira e à violência. Jacó julgou a ação de seus filhos e tornou a falar sobre isto em termos ainda mais claros quando pronunciou sua bênção profética no capítulo 49:5-7.
No capítulo 35 lemos que Deus ordenou a Jacó deixar esta região e se estabelecer em Betel. Alguns anos antes, quando fugia de seu irmão Esaú, Deus lhe aparecera naquela local em sonhos. Jacó havia chamado aquele lugar de Betel (casa de Deus), dizendo: “Quão temível é este lugar!” (28:10-19). Entretanto, Deus havia cumprido todas as Suas promessas e o havia trazido de volta a seu país, são e salvo. Contudo, até então, Jacó não havia cumprido seu voto a Deus. Naquele momento, Deus mesmo teve de recordá-lo desse voto, ordenando-lhe que construísse um altar ao Deus que lhe havia aparecido ali. Podemos compreender o medo de Jacó de retornar a este terrível lugar. O deplorável estado moral de sua família o havia impedido dar este passo.
Por isso, antes de sair, Jacó mandou que sua família e todos os que com ele estavam lançassem fora os deuses estranhos que havia no meio deles. Não lemos que Deus lhe ordenou fazer tal coisa. Parece que ele mesmo sentiu que à casa de Deus convém a santidade. Todos lhe obedeceram e então Jacó escondeu todos aqueles objetos debaixo do carvalho que está junto a Siquém. Em Atos 19:19 lemos algo parecido. Os idólatras que antes praticavam artes mágicas, agora convertidos, trouxeram seus livros e os queimaram diante de todos. Foi até um gesto mais radical que o de Jacó, que deixou aberta a possibilidade de ir buscar os objetos outra vez. Os magos de Atos 19, ao queimar seus livros, fizeram um sacrifício financeiro de 50.000 moedas de prata. Não teria sido melhor vendê-los e usar este valor para fazer o bem? Quem faz esta pergunta não tem noção da gravidade deste mal. Os que praticavam a magia negra o sabiam, como também o sabiam as suas vítimas.
Não pensemos que estas práticas pertencem ao passado. Pude conhecer bem a realidade da bruxaria quando estive na África. E quando pessoas envolvidas com isso se convertem a Cristo, estes poderes são reprimidos. Mas faz-se necessário que a conversão dos ídolos a Deus seja conseqüente. O Senhor Jesus disse a este respeito: “Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa” (Mateus 12:43-45).
Estas práticas existem não somente na África, mas também no mundo ocidental. Mais de dez milhões de pessoas praticam o espiritismo. O misticismo oriental e o ocultismo avançam de modo alarmante. Desta mesma fonte verte o abuso das drogas, os jogos de magia, a consulta dos horóscopos, as práticas de ioga etc. Trata-se do espírito que opera nos filhos da desobediência (Efésios 2:2), e este espírito continuará aumentando em força e sedução.
Chamo a atenção para o costume de assistir à televisão e ao nível de prevalência na mídia das coisas que acabamos de advertir. É um meio que expõe especialmente a juventude a toda a sorte de violência. Tornou-se um palco onde a inveja, as brigas e os homicídios são o prato predileto do entretenimento popular. Os pais são culpados quando expõem a si mesmos e aos seus filhos a estas influências.
A manutenção de um ambiente cristão na família é impossibilitado por estas coisas. O que podemos fazer, em vez disto, para fomentá-lo positivamente, é cantar e praticar a música juntos. A Bíblia nos ensina a cantar “com hinos e cânticos espirituais” (Efésios 5:19). Os presos em Filipos ouviram tão atentamente os cânticos de Paulo e Silas que nem mesmo fugiram quando as portas do cárcere se abriram. O rei Saul se acalmava com a música de Davi, e o profeta Eliseu foi estimulado pelo som de um instrumento a exercer seu ministério (Atos 16:25-28; 1 Samuel 16:23; 2 Reis 3:15). Nós mesmos pudemos experimentar em nossa família quão valiosos são a música e o canto. Lembro do encontro com uma pessoa que me disse: “Quer dizer que o senhor é o pai daquela grande família em que tanto se canta e pratica a música? Quando eu visitava seus vizinhos, sempre os ouvíamos com satisfação quando estávamos no jardim”. Agora que todos os filhos saíram de casa, minha esposa e eu recordamos com alegria esses tempos passados, e também nossos filhos.
Vejamos ainda os últimos anos da vida de Jacó no Egito. Em Hebreus 13:7, os crentes são exortados a lembrar de seus guias. Têm de considerar o resultado de sua conduta e imitar sua fé. “O que termina bem é bom”, diz o refrão. A vida de Jacó terminou para a glória de Deus. A disciplina de Deus, necessária por causa de seus erros, produziu nele o “fruto pacífico... de justiça” (Hebreus 12:11).
Gênesis 47:7-10 relata seu encontro com Faraó. Este lhe perguntou: “Quantos são os dias dos anos da tua vida? Jacó lhe respondeu: Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida e não chegaram aos dias dos anos da vida de meus pais, nos dias das suas peregrinações”. E o soberano mais poderoso daquela época reconheceu que Jacó lhe era superior, e deixou-se ser abençoado por ele. “Tua clemência me engrandeceu” diz o salmista (Salmo 18:35). Vemos ilustrada na vida de Jacó a verdade destas palavras de Davi.
Jacó viveu no Egito dezessete anos (Gênesis 47:28). Ao sentir que se aproximava o seu fim, abençoou os seus filhos. Primeiro aproximou-se dele José com seus dois filhos, Manassés e Efraim. José recebeu dupla bênção, pois seus dois filhos foram contados como filhos de Jacó e chegaram a ser duas tribos.
Naquele tempo, a primogenitura tinha grande importância. Esaú a menosprezou vendendo-a por um guisado de lentilhas e, conseqüentemente, perdeu a benção – e quem a recebeu foi Jacó. Rúben perdeu esta bênção por causa de sua vida pecaminosa, e seu moribundo pai teve de recordá-lo de seu pecado (veja Gênesis 49:3-4; 1 Crônicas 5:1). Jacó colocou Efraim, o mais novo, em posição mais privilegiada que Manassés, o primogênito, abençoando-o com a mão esquerda, e a Efraim com a direita (veja Gênesis 48:14-20). Não foi um capricho, mas sim um ato de fé, como nos ensina Hebreus 11:21.
Jacó, pela fé, também predisse o futuro das doze tribos. Sua fé nas promessas de Deus no tocante ao futuro é claramente vista em seu último desejo: Queria ser sepultado com seus pais na Terra Prometida.
A história de Jacó foi muito agitada. Sua vida começou com o engano; foi caracterizada por quedas e restaurações, pecados e confissões. Contudo, no final de seus dias, brilhou sua fé do modo mais glorioso. Podemos reconhecê-lo no caráter de sacerdote e profeta, quando “recolheu os pés na cama, e expirou” (Gênesis 49:33). Foi honrado com um enterro digno de um príncipe. Podemos dizer juntamente com o salmista:
“Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no SENHOR, seu Deus” (Salmo 146:5).
Questões referentes à família nº 7
1) Em quais aspectos da vida de Jacó vemos os maus resultados da poligamia?
2) A reconciliação entre Esaú e Jacó foi verdadeira? O que o Senhor Jesus ensinou no tocante à ira e ao verdadeiro perdão entre cristãos? (veja Mateus 5:21-26; 18:15-17).
3) Compare Gênesis 35:4 com Atos 19:19. O que podemos aprender com estas passagens?
4) Quais influências do ocultismo ameaçam nossas famílias hoje em dia?
5) Como terminou a vida de Jacó?
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