quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ADÃO E EVA E SEUS FILHOS - Parte 2

(Gênesis 3 e 4)

            Noutro tempo não se suscitava a questão de ordenar uma mulher para o ministério, porque os versículos que lemos há pouco eram tidos como suficientemente claros e aceitos por sua autoridade. É triste verificar que hoje em dia, em geral, a ocorrência de mulheres exercendo o ministério nem mais se questiona. Por acaso encontraram uma melhor explicação para essas passagens? Impossível, pois não dão margens a duas interpretações! Não, argumentaram simplesmente que esses conceitos estão arcaicos. Seriam meros pontos de vista do apóstolo Paulo, aplicáveis àquele tempo, obsoletos para a época atual. Com essa forma de argumentar, as Escrituras são privadas de sua autoridade e simplesmente postas de lado. Aliás, é bem isso que tem acontecido com muitas outras verdades bíblicas, mas não quero me delongar nisso agora.

            No tocante ao lugar da mulher na Igreja, os versículos apresentados são suficientes para toda mulher que queira submeter-se à autoridade das Escrituras. O serviço público na Igreja é uma área para a qual o Senhor, que é o cabeça da Igreja, chamou o homem. Para ele há numerosas instruções como exercer esse serviço. A mulher foi chamada para outras tarefas, e isso não significa que ela tenha lugar inferior diante do Senhor. Eram mulheres que serviam ao Senhor com seus bens. Foi a mulheres que o Senhor se apresentou primeiro, após a ressurreição. Foram mulheres quem Ele incumbiu de transmitir aos irmãos a grande notícia de Sua ressurreição. Mulheres lutaram junto com Paulo em prol do evangelho. O homem e a mulher têm cada um o seu próprio lugar, tanto no lar como na Igreja.

            Gênesis 4 começa comunicando que Adão e Eva coabitaram. A relação sexual entre os cônjuges é uma bênção especial de Deus, na qual não há nada pecaminoso nem sujo. É um prazer e privilégio que Deus associou ao matrimônio. Isso pode ser constatado na instituição do matrimônio, quando Deus disse: "Estes dois serão ‘uma só carne’ " (Gn 2:24). Deus implantou o instinto sexual nos animais para perpetuação da espécie. Este também é o propósito de Deus para o homem. Deus disse a Adão e Eva: ?Sede fecundos, multiplicai-vos? (Gn 1:28). A bênção dos filhos é uma fonte de grande alegria no matrimônio. E a ordem para gerar filhos continua vigente nos dias de hoje. Pode-se dizer que esse é o único mandamento que o gênero humano têm obedecido voluntariamente, em qualquer lugar. É uma conseqüência da atividade sexual. Embora, no tocante à sexualidade, Deus tenha dado ao homem muito mais que aos animais, dotando-o de compreensão e do amor controlado pela razão. Quando falta esse controle, o homem se rebaixa ao nível do instinto animal. 1 Coríntios 7:3-5 nos dá claras instruções de como viver a sexualidade no casamento: “O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”.

      Vimos que Deus deu ao homem e à mulher uma posição distinta em certas áreas da vida. As epístolas de Paulo também apresentam isso. Por isso, é tanto mais notável verificar que neste caso ambos os parceiros são contemplados com igual posição e igual direito. Esse é um aspecto muito importante para a vida sexual. Outro ensino importante é que os parceiros não devem ter em vista a sua própria satisfação, mas devem almejar a felicidade do outro. A meta no matrimônio não deve ser obter o máximo proveito possível, mas dar o mais que se possa. Se esses princípios forem respeitados, é possível viver por muitos anos um casamento prazeroso e harmonioso, mesmo no aspecto físico. Os laços do amor desse modo se reforçam. Por outro lado, a desconsideração desses princípios é a causa do fracasso de muitos matrimônios. O amor se esfria até que, por fim, um fica alheio ao outro; e o resultado muitas vezes é desastroso.

Muitos irmãos supõem, e até ensinam, que o celibato (ou a abstinência sexual dos casados) é indicador de um nível mais elevado de espiritualidade no crente. Isso é um erro. O próprio Senhor Jesus ensinou de forma diferente, e demonstrou isso chamando homens casados para apóstolos (1 Coríntios 9:5). Deus só aprova que alguém abra mão do matrimônio quando o fizer voluntariamente em prol do Reino de Deus. Poucos são qualificados com esse dom especial. Paulo também ensinou isso (1 Coríntios 7:32) e se opôs firmemente aos que proibiam o matrimônio (1 Timóteo 4:3). A exigência do celibato, que mais tarde foi instituída na igreja romana, não tem nenhuma base bíblica. A história eclesiástica provou que as pessoas não são capazes de viver uma vida casta quando isso lhes é imposto. Que ninguém se subestime nesse assunto. Não é o desejo em si mesmo o que caracteriza o pecado — aquilo que Paulo chama de ?viver abrasado? —, mas o fato de buscar satisfação sexual fora do casamento.

Os coríntios escreveram a Paulo fazendo muitas perguntas, entre elas, várias a respeito do casamento. A resposta do apóstolo dá a entender que, dentro da esfera do matrimônio, Deus concedeu um lugar aos impulsos sexuais. Ceder a esses impulsos fora dessa esfera, caracteriza a “prostituição” ou o “adultério”, e é condenado como pecado. É bom e absolutamente necessário que os crentes atentem para essa norma. Em nosso país, dito cristão, isso foi, nas gerações passadas, de certa forma levado em conta na formulação das leis. Hoje em dia, muitos não querem mais saber desse princípio divino. As relações sexuais fora do casamento são aprovadas e, muitas vezes, até publicamente propagadas.

Também as relações homossexuais recebem aprovação. Muitos até querem que essa forma de convivência seja reconhecida por lei. Os que têm a coragem de protestar publicamente contra tais práticas são tachados de antiquados e tapados. Devem ser punidos por discriminação, dizem alguns. Pensam esses que poderíamos nos desenvolver melhor e viver mais felizes sem essas normas bíblicas. E esse pensamento não é tão novo quanto parece. É a mesma velha mentira de Satanás no paraíso: ?No dia em que […] comerdes [o fruto proibido…] como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal?(Gênesis 3:5). É uma meia-verdade, e geralmente uma meia-verdade é pior que uma mentira inteira. O diabo deixou de mencionar que, com esse conhecimento, o homem não mais seria capaz de deixar o mal, nem tampouco de fazer o bem. Abolir as normas de Deus nunca fez o homem mais feliz, nem jamais fará. Que sociedade desventurada é esta de hoje, que cada vez mais se afasta de Deus!

O primeiro filho de Adão e Eva foi Caim. Depois nasceu Abel. Eles não “fizeram” filhos, como às vezes se diz hoje em dia. Filhos devem ser vistos pelos pais como dom de Deus. Estes, portanto, também devem ser criados para Deus. Eva reconheceu no filho que lhe nascera uma bênção de Deus. Ao criar filhos, os pais muitas vezes experimentam bastante alegria, muitas vezes também, preocupação e tristeza. E o mesmo se deu com os primeiros pais.

O filósofo Rousseau afirmou que as crianças são como um papel em branco. Uma vez que o educador saiba evitar qualquer má influência sobre ela, poderá escrever o que quiser sobre essa ?folha em branco?. Todavia, o relato da primeira família nos ensina algo diferente. As influências exteriores não desempenharam nenhum papel na criação dos filhos do primeiro casal. O que de fato pesou no caso de Caim foi a natureza pecaminosa que recebera desde o nascimento. Seus pais provavelmente tiveram muita preocupação e tristeza por causa dele. A elevada expectativa de Eva resultou em grande desilusão.

Caim era religioso. Foi ele que ofereceu o primeiro sacrifício a Deus. Mas, ao contrário de seu irmão, ele não entendeu nada do fundamento sobre o qual um pecador pode subsistir perante Deus e se aproximar dEle. Abel também ofereceu um sacrifício, mas os sacrifícios dos irmãos foram diferentes. Se alguém ler a Bíblia superficialmente, poderá supor que a causa disso estava na diferença de seus ofícios. Caim, agricultor, ofereceu a Deus um sacrifício dos frutos da terra, e Abel, pastor, ofereceu a primogênita de suas ovelhas. Pode parecer natural. Mas, se pensarmos assim, perderemos a grande lição concernente à reconciliação que essa história encerra. Em Hebreus 11:4 lemos: ?Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala?.

Há uma grande diferença entre esses dois homens: Abel tinha fé e, fundamentado nessa fé, ofereceu sacrifício. Hebreus diz que ele ofereceu um sacrifício “mais excelente”, um sacrifício de sangue, dando a entender que reconhecia sua culpabilidade diante de Deus. Ele cria em Deus e que este lhe aceitaria o sacrifício em seu lugar. O sacrifício de Caim evidenciava um rito religioso constituído segundo a vontade própria: ofereceu frutos da terra — da mesma forma que seu pais, que, depois de caírem no pecado, pensavam poder vestir-se perante de Deus com folhas de figueira produzidas por uma terra maldita. As peles com as quais Deus os vestiu ensinavam de maneira figurada que o pecador só pode aproximar-se de Deus em virtude do sacrifício de um substituto executado no lugar deles. Adão e Eva tiveram de aprender essa lição e, sem dúvida alguma, também a ensinaram a seus filhos, mas Caim não a compreendeu. Razão pela qual lemos que Deus não se agradou ?de Caim e de sua oferta?(Gênesis 4:5). Outra coisa que notamos aqui é que, nessas duas ofertas, Deus relaciona o ofertante com sua oferta.

Adão e Eva podiam contar a seus filhos os grandes feitos de Deus e compartilhar com eles os ensinamentos que eles próprios haviam recebido de Deus. Mas não estava ao alcance deles convertê-los nem induzi-los à fé. Isso é algo que só Deus pode fazer, mediante a operação do Espírito Santo.

O mesmo também se aplica aos pais da atualidade. Temos de estar profundamente cientes de nossa grande responsabilidade como pais e, ao mesmo tempo, convencidos da nossa completa incapacidade. Isso nos levará à oração. Rendamos graças a Deus pelos filhos que se convertem e evidenciam a verdadeira fé. Sigamos orando pelos que continuam demonstrando desinteresse.

Quando Caim viu que Deus rejeitara sua oferta, irou-se grandemente contra seu irmão e finalmente o assassinou. Por quê? O apóstolo João dá a resposta: ?Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas? (1 João 3:12).

Não obstante, Deus também amava Caim, assim como ama a todos os pecadores. Não quer que o pecador pereça, mas que se converta e seja salvo (veja 2 Pedro 3:9; 1 Timóteo 2:3-4). Por isso advertiu Caim antes de este consumar o ato deplorável. Posteriormente, quando Deus lhe anunciou o castigo, Caim reconheceu a gravidade de seu pecado. Teria sido arrependimento sincero? Ou ele teria ficado impressionado com os terríveis resultados de sua maldade? Quanto a isso, só podemos fazer suposições.

Caim foi desterrado. Antes de se retirar, Deus pôs sobre ele um sinal para que qualquer que o encontrasse não o ferisse de morte. Até no juízo pronunciado sobre Caim vemos a misericórdia de Deus. A expressão ?quem quer que o encontrasse[lan1]? (Gênesis 4:15) é óbvia referência aos outros filhos de Adão e Eva. Alguns provavelmente já haviam-se casado com uma das irmãs. O próprio Caim tomou uma irmã por mulher.

No lugar de Abel, Deus deu outro filho a Adão e Eva: Sete. Gênesis 5 nos fala dele e de sua descendência, é um capítulo que termina com Noé, cuja família vamos considerar numa próxima ocasião. A descendência de Caim nos é relatada no capítulo 4. Dessa linhagem destaca-se Lameque e seu lar. É deles que trataremos no próximo estudo.

 

Questões relativas à família nº 1

 

1)      Que princípios sobre o matrimônio encontramos em Gênesis 2:24?

2)      Como Satanás conseguiu fazer que os primeiros homens pecassem (Lucas 4:1-13 e 1 João 2:16)?

3)  No que consistiu a condenação de Satanás, a serpente, e a de Adão e de Eva (Gênesis 3:14-19)?

4)  Em Gênesis 3:7 e 21 notamos que o homem não pode agradar a Deus com suas próprias obras. O que dizem as passagens de Romanos 3:28 e Efésios 2:8-9 a esse respeito?

5)  Como Deus regulamentou a relação entre o homem e a mulher (leia Malaquias 2:14-16; Efésios 5:22-23; 1 Pedro 3:1-7)?

6)  Que importância tem a sexualidade? No que diz respeito à sexualidade, qual é a diferença entre o homem e os animais (leia Gênesis 1:28; 2:24; 1 Coríntios 7:3-5)?

7)  Qual a diferença entre Caim e Abel (leia Hebreus 11:4 e 1 João 3:12)?

(Continua)

 [lan1] Está exatamente assim na ARA (Almeida revista e atualizada no Brasil), que tem bastante cuidado com o Português. Diferente da NVI, que, segundo a comissão de tradutores, tem grande esmero na tradução dos originais, mas, in my humble opinion, confundiu simplicidade de linguagem com uma estilística meio fraca.

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