( MT) Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. Chegando, então, o Tentador, disse-lhe: – Se tu és o Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães. Mas Jesus lhe respondeu:– Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas, sim, de toda palavra que sai da boca de Deus. Então o Diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do Templo, e disse-lhe: – Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e eles te sustentarão nas suas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Replicou-lhe Jesus: – Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. (LC) E disse-lhe o Diabo:– Dar-te-ei toda a autoridade e glória destes reinos, porque me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. (MT) Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Então, ordenou-lhe Jesus:– Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele servirás. (LC) Assim, tendo o Diabo acabado toda sorte de tentação, retirou-se dEle até ocasião oportuna. ( MT) E eis que vieram os anjos e o serviram.
👉 Notas do Autor: MT 4:1-8; LC 4:6; MT 4:910; LC 4:13; MT 4:11b 📝
(1)DIABO. Esta palavra vem do grego Diabolos e quer dizer “Acusador, Difamador, Enganador”. Em hebraico e latim seu nome é Satan, e quer dizer “Adversário, Inimigo”. A origem do Diabo e dos demônios. Deus criou todas as coisas. Sejam elas visíveis ou invisíveis: “Porque nEle foram criadas todas as coisas nos Céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele” (Cl 1:16). Portanto, o maior Inimigo de Deus e da raça humana também foi criado pelo próprio Deus! Porém, o Senhor não o criou mal, tal e qual ele é hoje. No princípio, o Inimigo era um belíssimo e perfeito querubim, criado por Deus com a finalidade de proteger. O texto sagrado diz: “Estivestes no Éden, jardim de Deus. Toda pedra preciosa era tua cobertura: a sardônia, o topázio, o diamante, a turquesa, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os pífaros; no dia em que foste criado, foram preparados. Tu eras querubim ungido para proteger e te estabeleci. No Monte Santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em foste criado, até que se achou iniquidade em ti. Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste” (Ez 28:13-16a). Por este texto vemos o magnífico esplendor do querubim na Antiguidade e também concluímos que os instrumentos de louvor foram preparados no mesmo dia em que ele foi criado. No princípio, o formoso querubim desfrutava de honra, glória, riqueza, poder, posição, mas foram justamente estas coisas que corromperam o seu coração e prejudicaram o seu entendimento e resplendor. O texto diz: “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor” (Ez 28:17a). O querubim ficou obcecado pelo poder. Ele dizia consigo mesmo: “Eu subirei ao Céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. E no Monte da Congregação me assentarei, nas extremidades do norte. Subirei acima das alturas das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:13-14). Estar acima das “estrelas” é uma linguagem figurada para se referir aos outros anjos (Jó 38:7; Is 14:12; Ap 1:20). E o querubim, ainda, tornou- se ególatra. Repare: “Eu subirei... Eu exaltarei o meu trono... Eu me assentarei... Eu serei...”. Deus já tinha estabelecido um trono para o formoso querubim, mas ele, ambicioso, queria colocar o seu trono no Monte Santo de Deus e ser “semelhante ao Altíssimo”. Mas no Monte Santo só havia lugar para Um Trono. Para assentar-se ali, somente se Deus fosse destronado. Por isso, para atingir o seu objetivo, o querubim passou a aliciar os outros anjos, dizendo que não concordava mais com muitas coisas que Deus tinha estabelecido. Habilidoso, convenceu-os de que o governo de Deus era injusto e autoritário. Foi assim que o querubim maligno se tornou o “Diabo”, o Acusador, pois difamou e acusou injustamente o próprio Deus. A liberdade com que o querubim rebelde transitou nas várias regiões celestiais, falando mal do Criador às outras castas de anjos, arcanjos, querubins, serafins, tronos, dominações, potestades e principados, comprova o caráter generoso de Deus que, Onisciente, viu a maldade brotando no seu interior e permitiu que ele agisse livremente, expondo suas novas ideias. Fosse Deus um ditador, não teria consentido que o querubim rebelde circulasse com tal liberdade. Com sua pregação, o “querubim protetor” conseguiu enganar e corromper a terça parte dos anjos do Céu (Ap 8:12; 12:4). A pretensão do formoso querubim chocou-se direta mente contra os Princípios da Unidade e da Obediência à Autoridade, vigentes no Reino de Deus. Por isso, acabou por haver guerra no Céu. Foi uma batalha tão devastadora que, até onde a Ciência pode contemplar, esterilizou todos os sistemas e planetas do Universo. Deus se defendeu do ataque do querubim rebelde e dos anjos que o acompanharam, preparando o Abismo para recebê-los, conforme está escrito: “Pelo que te lancei, profanado, fora do Monte de Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras afogueadas” (Ez 28:16b); “O Sheol desde o profundo se turbou por ti, para sair ao teu encontro na tua vinda; [...] Está derrubada até o Sheol a tua pompa, com o som dos teus alaúdes; os bichinhos debaixo de ti se estendem e os bichos te cobrem. Como caíste do Céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra tu que prostravas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei... Contudo levado serás ao Sheol, ao mais profundo do Abismo” (Is 14:9, 11-13a,15). Os anjos, arcanjos, querubins, seraf ins, tronos, dominações, potestades e principados que foram enganados e o seguiram perderam a Glória e a Luz de Deus e se transformaram em várias castas de demônios (Mt 17:21). Foram também lançados no Abismo, que é a região que separa o Sheol (Hades em grego) do Paraíso (Lc 16:26). É um lugar terrível (Lc 8:31), árido e sem repouso (Mt 12:43). Desde que a “estrela da manhã” – Lúcifer, em latim, “o portador da Luz” – ali foi lançado, o Abismo se tornou o lugar de morada dos anjos caídos. Com o tempo, os demônios aprenderam a sair dali (Mt 12:44). Satanás se tornou também “Adversário” do ser humano, criatura menor em poder, porém criado à imagem e semelhança do Criador. E, desde que o Homem Jesus nasceu, Satanás tentou destruí-Lo porque imaginou que Deus criado à imagem e semelhança do Homem seria muito mais fraco. Satanás usou Herodes, o Grande, para tentar matar Jesus ainda bebê e não conseguiu. Porém, na Terra, a batalha estava apenas começando... JESUS FOI CONDUZIDO PELO ESPÍRITO AO DESERTO. Note que foi o próprio Espírito Santo que O conduziu ao deserto, e não o Diabo. Ali Jesus terá de travar o primeiro confronto na carne com o Adversário, antes de começar a pregar a chegada do Reino dos Céus. Ao contrário do primeiro homem, que foi derrotado por Satanás num jardim de fartura e delícias, Jesus – o segundo Adão – enfrentará a antiga serpente num lugar árido, sem comida e sem água. Será um teste difícil, porque Jesus estará no mais alto grau da necessidade humana: com fome e sede. Se Jesus não passar pelo teste, Se tornará prisioneiro e servo do Diabo. E como um prisioneiro poderia libertar os demais prisioneiros? Todos sabem que Jesus vencerá esta tentação no deserto. Por isso, vale a pena acompanhar e aprender de que maneira o Senhor, como Homem, vai fazer isso: TENDO JEJUADO QUARENTA DIAS E QUARENTA NOITES. Teria Jesus, nestes quarenta dias, bebido água ou não? Muitos afirmam que Jesus apenas se absteve de comida, porque o corpo humano não resiste a uma desidratação tão prolongada. Vejamos algumas coisas: a Torá diz que Moisés, ao subir ao Monte Horebe, ficou quarenta dias sem comer e sem beber (Êx 34:28). Em outro caso, quando os habitantes de Nínive ouviram a pregação de Jonas, fizeram um jejum nacional para que a cidade alcançasse o perdão de Deus. Naquele jejum, todos se abstiveram de comida e de água, inclusive os animais (Jn 3:6-10). Também, quando foi decretada a morte de todos os judeus pelo rei Assuero, Ester convocou um jejum de três dias e noites, no qual ninguém comeu ou bebeu coisa alguma (Et 4:16). Seria muito depreciativo se Jesus, o Filho de Deus, tivesse feito um jejum menor do que o jejum dessas pessoas. Os escritores do Evangelho não detalharam a questão da água porque todos sabiam e praticavam o jejum como abstinência total. Ademais, naquele deserto não havia água e, se houvesse, Jesus não a beberia porque a primeira intenção do jejum é enfraquecer a carne para fortalecer o espírito. Jesus jejuou para enfrentar o Adversário e, com a primeira vitória, iniciar o Seu Ministério aqui na Terra.
(2)ESTÁ ESCRITO. A estratégia que Jesus usou, como Homem, para enfrentar o maior representante do Reino das Trevas, foi uma combinação da Fé com as três mais poderosas armas do Reino: 1- A Palavra de Deus 2- O Jejum 3- A Oração. Todas as respostas que Jesus deu ao Diabo foram citadas da Torá, nesta ordem: Deuteronômio 8:3; 6:16 e 6:13. LANÇA-TE DAQUI ABAIXO; PORQUE ESTÁ ESCRITO. Note que, enquanto Jesus usa uma estratégia, o Diabo contra-ataca usando um estratagema – um artifício hábil e astucioso para fazer a outra pessoa cair numa armadilha. Fingindo boa intenção, Satanás cita o Salmo 91:7, distorcendo o seu sentido e aplicação. Nisto se vê que o Enganador não mudou: afinal, não foi assim que ele fez com o primeiro casal? Manipulou com sagacidade a Palavra que saiu da boca de Deus e ludibriou a mulher e o homem (Gn 3:1-6). Satanás conhece bem a Escritura e usa esse conhecimento para desvirtuar o seu sentido e enganar os símplices. Pela citação que o Inimigo fez do Salmo 91, vê-se que é inútil a prática de deixar a Bíblia aberta na quele Salmo, na intenção de afastar o Adversário.
(3) ME FOI ENTREGUE. Jesus não contestou o Inimigo quando ele lhe fez esta afirmação. O “pai da mentira” (Jo 8:44) estava dizendo a verdade. Quem lhe entregou tudo isto? Deus? Ora, Deus jamais daria a Sua mais bem feita Obra a este ser maligno. Quem deu este mundo de mão beijada a Satanás foi o próprio ser humano! Explicando melhor: quando Deus criou o homem, entregou-lhe o Domínio do Planeta (Gn 1:27-28). O Domínio, juridicamente, é um direito real alienável, transmissível aos herdeiros, e que confere a alguém o pleno gozo do bem, mediante a obrigação de pagar ao proprietário um numerário ou frutos. No mundo espiritual, os “numerários e frutos” que o ser humano deveria pagar a Deus são “obediência e fidelidade”. Ao dar ouvidos à tentação e atender à simples sugestão do Adversário, o primeiro casal, enganado, transferiu o Domínio do mundo às mãos do Inimigo. Tornou-se, assim, servo de Satanás. Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8:34). Paulo escreveu sobre este princípio da Servidão Espiritual: “Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6:16). É interessante que, tantos milênios depois, o Adversário empregue com Jesus a mesma tática: sugere-Lhe que “transforme pedras em pães”. Desafia-O, com isto, a provar que é o Filho de Deus. Tenta provocar em Jesus aqueles sentimentos que lhe sobejam: o orgulho e a vaidade. A humilde resposta do Senhor Jesus foi uma decepção para Satanás: o SENHOR não se posicionou orgulhosamente como Deus e, sim, como um simples homem que se alimenta da Palavra que sai da boca do Pai. Se em algum momento Jesus tivesse aceitado qualquer uma das três sugestões de Satanás, teria transferido a ele o Domínio da Sua própria vida e repetido o erro de Adão e Eva. Jesus mesmo teria se tornado escravo do Diabo e não haveria nenhuma esperança para a humanidade. Foi assim que Jesus triunfou sobre o Adversário: buscou forças na fraqueza do Seu jejum, na Oração, na Palavra, na Obediência e na Humildade.
(4)VAI-TE, SATANÁS. Jesus chama o Diabo de Satanás. Estes dois nomes deixam bem clara a natureza do Inimigo: Acusador e Adversário de Deus e do ser humano (Ap 12:10). Por causa desta tentação ao Senhor, nos mesmos moldes da tentação feita ao primeiro casal, Satanás também é chamado de “Tentador” (Mt 4:3).
(5)RETIROU-SE DELE ATÉ OCASIÃO OPORTUNA. O Inimigo nunca desiste. Retira-se estrategicamente, para voltar com mais força, em ocasião oportuna. Jesus ensinou que ele assim faz com qualquer pessoa (Mt 12:43-44). Sabendo disso, cabe ao ser humano ser mais perseverante ainda que o Inimigo. Tiago, chefe da Igreja em Jerusalém, escreveu na sua carta: “Sujeitai- vos, pois, a Deus; resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:7). Foi o que Jesus fez.
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