segunda-feira, 14 de julho de 2014

2 - O ÚNICO CAMINHO - Efesios 6.10 a 13


2 - O ÚNICO CAMINHO

Chegamos agora à consideração e análise detalhada desta decla ração sumamente importante. “No demais (“Finalmente”), irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.” O apóstolo está exortando estes efésios a que tratem de compreender algo da natureza do combate em que todos estamos in evitavelmente envolvidos por sermos cristãos. Na verdade, este com bate existe, quer sejamos cristãos, quer não. O ensino da Bíblia, de capa a capa, é que este mundo, no qual vivemos, é um campo de batalha, um lugar em que literalmente temos que lutar por nossas almas, temos que lutar por nossa felicidade eterna. O apóstolo dá a estes efésios uma instrução muito específica sobre a natureza desse combate, e quanto ao único modo pelo qual pode ser travado com sucesso. É evidente que a exortação é primariamente para cristãos; toda a sua argumentação está baseada nessa consideração. Ao mesmo tempo, porém, ela contém uma mensagem para todos; pois é correto dizer que este conflito afeta todas as pessoas, quer se dêem conta dele, quer não. Os não cristãos não compreendem o seu próprio mundo no presente; não podem compreender por que ele é como é, e por que sucedem várias coisas. Portanto, enquanto examinamos a instrução do apóstolo com relação ao modo de travar esta grande batalha, veremos, concomitantemente, o desmascaramento do completo fracasso de todos os não cristãos, incapazes até de entender o seu problema, e mais ainda o seu fracasso por não saberem lidar com o seu problema de maneira adequada e com sucesso. Noutras palavras, somos confrontados aqui pelo ensino do apóstolo quanto à maneira pela qual podemos combater vitoriosamente as fileiras dispostas contra as nossas almas e contra os melhores e mais altos interesses de nossas almas. Talvez a melhor maneira de abordar este assunto e de colocá-lo no seu cenário moderno para podermos perceber a relevância disso tudo para a vida como é hoje, talvez a melhor maneira, digo, seja citar algumas palavras que li recentemente num jornal. Um antigo mestre de educação numa faculdade da Grã-Bretanha disse o seguinte: “A Igreja deve tomar iniciativa mais firme sobre as questões morais; as frouxas generalizações deverão desaparecer. A Igreja precisa dar respostas aos reais problemas modernos, os do sexo inclusive. Conquanto a base religiosa ofereça maior esperança de sucesso, nunca deverá ser consi derada como o único modo de ensinar moralidade; doutra maneira, vamos ficar bitolados". Esta é uma declaração típica da atitude de muitos no mundo de hoje para com o problema tratado aqui pelo apóstolo Paulo. Abstenho-me de fazer certos comentários óbvios sobre esse pronunciamento, pois só estou interessado nele porque acho que nos ajudará a entender o ensino do apóstolo. Deixando de lado por um momento as considerações detalhadas, ponderaremos o ensino do apóstolo de modo geral, naquilo em que ele dá uma resposta àquele tipo de declaração. O referido mestre emprega a palavra “frouxas” — ele não quer “frouxas generalizações”. Todavia, pobre homem, a decla ração que fez não passa de uma frouxa generalização! Contudo, ignoremos isso. Ela é um dos típicos clichês modernos — “A Igreja deve fazer isto e não deve fazer aquilo; está chegando a hora em que a Igreja...” Todos nós conhecemos bem essas observações. Declarações deste jaez invariavelmente se baseiam na ignorância do que a Igreja é, e de qual é a natureza do seu ensino. Na passagem de Efésios que temos diante de nós, o apóstolo está realmente dizendo que o seu ensino é o único modo de lidar com problemas de conflito. Diz o citado mestre que “conquanto a base religiosa ofereça maior esper ança de sucesso, nunca deverá ser considerada como o único modo de ensinar moralidade; doutra maneira, vamos ficar bitolados.” O apóstolo, por outro lado, diz aberta e especificamente que o caminho que ele propõe é o único que leva à vitória. É por isso que há aquela nota de urgência em seu ensino e, como eu já disse, por isso vem como uma espécie de toque de clarim: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus.” Se você deixar de fazer isto, será derrotado, já estará acabado antes de começar. O método do apóstolo é o único. Não me desculpo por dizê-lo. Não temos nenhum medo desta acusação de estreiteza mental. Quando se sabe que seguir certa receita é a única maneira de curar uma moléstia, que essa receita é específica, que com toda a certeza vai produzir a cura, e que nenhuma outra coisa poderá fazê-lo, não se vai dizer que é ser bitolado usar esse remédio e negar-se a perder tempo com outros remédios. Isso não é ser bitolado; é ser sensato, racional e sadio. Todo tipo de especialização é estreito, neste sentido. Vivemos numa época de especialização; mas nunca ouvi ninguém opinar que um cientista especializado em átomos é bitolado porque dedica todo o seu tempo a esse ramos da ciência. Claro que não! Isso é bom senso, é sabedoria; é concentrar-se no que importa, no que é poderoso, no que dá resultado. Deixem-me, porém expor a minha tese em termos positivos. A reivindicação da fé cristã, aberta e especificamente, é que ela — e somente ela — pode tratar deste problema. O evangelho de Jesus Cristo não é apenas uma dentre muitas teorias, doutrinas e filosofias que se confrontam com o mundo. Ele é singular, é único, está absolutamente sozinho. A Bíblia não é apenas um livro entre muitos. É o Livro de Deus, é um Livro único, é o Livro, isolado de todos os demais. Precisamos dar ênfase a isto porque é a base da fé cristã. A Igreja não é apenas uma instituição entre muitas; ela alega que é inteiramente única, como instituição; ela afirma que é o corpo de Cristo. Falamos porque temos uma revelação. A Bíblia não nos dá uma teoria, uma especulação, uma tentativa de chegar à verdade. A posição de todos os que escreveram os livros da Bíblia é muito semelhante àquilo que o apóstolo diz de si próprio no capítulo 3 desta Epístola aos Efésios: “Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios; se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada; como me foi este mistério manifestado pela revelação.” O apóstolo não se dirige aos efésios dizendo: “Ouçam, muita gente lhes tem oferecido conselho e ensino; bem, eu também estudei bas tante, e cheguei a esta conclusão; portanto, é isto que eu lhes sugiro.” Esse não foi o caso, de maneira alguma! Diz ele: “Uma revelação me foi dada.” Não é uma mensagem idealizada por Paulo; a mensagem lhe foi dada pelo Senhor, pelo Senhor da Glória, no caminho de Damasco. Ele o deteve e o capturou e lhe disse, noutras palavras: “Vou enviar-te como ministro e testemunha a este povo e aos gentios” (Atos 26:16- 18). A comunicação divina é a base fundamental da fé cristã. É, pois, tolice considerar essa fé como uma entre muitas. Não. Como o apóstolo Pedro afirmou uma vez para sempre no princípio da Igreja, quando ele e João foram presos e acusados perante as autoridades de Jerusalém, “nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12). Nenhum outro! Não há nem mesmo um segundo! Ele é o único, e basta; não é necessário nenhum acréscimo. Ele, e somente Ele. E essa nota se vê em tudo que o apóstolo diz. Por essa razão há tanta urgência no que diz, por isso ele procura constrangê-los com a sua mensagem. Esta é a única esperança. Se assim não fosse, não haveria nada mais. Este é um pronunciamento dogmático; e quem pede desculpas pelo seu cristianismo, ou tenta acomodá-lo, ou fica dizendo que ele é o melhor entre vários, está virtualmente negando o ponto mais fundamental da posição cristã Contudo, não devemos parar numa simples asserção dogmática, mas devemos pôr-nos a demonstrá-la. Creio que se você recorrer às evidências da história, chegará à conclusão de que este é o único caminho. Vá ao passado, reveja a história dos séculos até onde puder ser conhecida, examine livros da história secular, veja a história como está registrada nas páginas do Velho Testamento, e verá, fora de toda dúvida ou questionamento, que a asseveração do apóstolo está plena e completamente comprovada. Pode-se ver isso em miniatura, por assim dizer, na história dos filhos de Israel. Sua história é que sempre que eram fiéis a Deus e O adoravam, obedecendo a Seus mandamentos, tudo lhes ia bem; ser viam de modelo e exemplo para as nações, e com alto grau de sucesso; porém toda vez que se afastavam de Deus e contemplavam os ídolos doutras nações, ou adotavam a religião delas ou as suas filosofias, tudo lhes ia mal. Este é o princípio que emerge quando se lêem as páginas do Velho Testamento. Todavia a exposição mais impressionante, o sumário perfeito de toda esta argumentação, é da lavra do apóstolo Paulo, na Epístola aos Romanos, começando no versículo dezoito e indo até o fim do capítulo primeiro. Diz ele que as nações e os povos que, com suposta “sabedoria”, voltaram as costas a Deus, o Criador, sempre se tomaram loucos — “Dizendo-se sábios, tomaram-se loucos.” Depois ele começa a fazer um relato da terrível degradação moral desses povos, as perversões e obscenidades em que eles caíram. “Ah”, diz o nosso mestre moderno, “a Igreja precisa falar especificamente sobre sexo...”. Muito bem, a Igreja faz isso! Se você quiser saber o que ela tem para dizer, leia a segunda metade do capítulo primeiro da Epístola aos Romanos, e verá um relato de todas as perversões modernas, de todas as loucuras que estão desgraçando a vida na época atual. Já aconteceram muitas vezes no passado. Quando, pergunto, é que isso acontecia? Sempre que o homem, com sua suposta sabedoria, afastava-se do Criador e prestava culto à criatura. Toda a história da raça humana evidência o que o apóstolo afirma. Antes de Cristo vir ao mundo, todas as outras coisas tiveram a sua oportunidade. Os filósofos gregos tinham florescido, os maiores deles já tinham ensinado as suas crenças. No entanto, eles não conseguiram tratar do problema do pecado; seu ensino não era ade quado, e já tinha fracassado. Havia também o grande Império Romano com o seu sistema de leis; mas havia um câncer no próprio coração do Império, e, finalmente, ele sofreu colapso, não por que os deuses dos godos, dos vândalos e dos bárbaros tivessem realizado façanhas superiores, mas por causa da podridão moral que carcomia o seu próprio coração. Foi essa a causa do “Declínio e Queda” do grande Império Romano, como todos admitem. Noutras palavras, a história comprova o ensino do apóstolo. Mas, desafortunadamente, a história moderna, a história contem porânea, também prova a minha tese. É aí que vemos a relevância deste ensino. É como ele é atual! Como nos fala na hora presente! Lemos nos nossos jornais da semana passada declarações como as do Secretário da Saúde da Cidade de Edimburgo, e de vários outros secretários da saúde em seus relatórios anuais. “A Igreja”, diz o mestre-preletor anteriormente citado, “precisa dar uma resposta ao problema do sexo.” O que os secretários da saúde estão relatando é que há um pavoroso aumento das doenças venéreas, principalmente entre os jovens e os adolescentes. É esse o problema que nos confronta. Este problema moral passou a ser o mais grave e o mais urgente — ocorre um sério esfacelamento da moralidade. Dizem-nos que somos confrontados por uma geração amoral, por pessoas que parecem não ter nenhum senso moral! Não esqueçamos, porém, que esta situação deve ser considerada à luz das excepcionais facilidades, oportunidades e vantagens que estão à disposição desde 1870. Este homem que fala que a religião não é a única solução é um professor de educação, e tem havido grande abundância de mestres e preletores desde 1870. E, todavia, aí está o nosso grande problema — a imoralidade, os vícios e a maldade! Mais que nunca antes, o mundo multiplicou as suas instituições que cuidam dos problemas morais e sociais no presente século. Clubes, instituições, representações cultu rais têm-se multiplicado sucessivamente. Jamais o governo de outro país gastou tanto na tentativa de cuidar dos problemas morais e sociais como a Inglaterra gastou no século atual. E, contudo, aí estão estes homens dizendo, um após outro, que os padrões morais estão se deteriorando quase a cada hora, semana após semana, e que o problema vai ficando aterradoramente difícil de resolver. Eles perguntam: que se pode fazer? Diz o mestre em questão que as coisas chegaram a tal ponto que a Igreja tem que fazer alguma coisa, a Igreja tem que começar a falar. Entretanto, depois ele estraga tudo, dizendo à Igreja o que ela tem que falar; e o que ele diz, como lhes mostrarei, está completamente errado! Qual, então, é a situação? É na medida em que a religião declinou neste século que o problema moral se tomou mais grave. Lembremos que temos dois blocos de estatísticas. Há as estatísticas dos secretários da saúde, que provam que todos estes terríveis problemas e doenças estão aumentando. Mas há outras estatísticas, as da Igreja. O número de membros de Igreja diminui ano após ano; o número de interessados no evangelho está decrescendo; o número de alunos da Escola Dominical é cada vez menor. As duas coisas andam juntas. À medida que a religião desce, todas estas outras coisas sobem. Estou dizendo isso tudo simplesmente para justificar a asserção do Novo Testamento de que o seu ensino é o único caminho, e que não há outro. A situação moderna está provando isso diante dos nossos olhos e, apesar disso, o nosso professor de educação afirma que o ensino da Bíblia não deve ser o único. Diz ele que “talvez esse ensino dê a maior esperança de sucesso”, porém seria “estreiteza mental” dizer que esta é a única resposta e solução. Bem, que ele mencione outras! Que terá ele para mencionar? A educação? Isso já foi experimentado. Deixemo-lo mencionar vários clubes. Já os experimentamos igualmente, como também as associações culturais. Ainda estamos experimentando todas essas coisas. Que loucura, que ridículo, proclamar estes clichês e não enfrentar os fatos! Há, todavia, mais uma razão pela qual esta é inevitavelmente a verdade; trata-se da natureza da luta em que estamos engajados. Toda a história passada o prova, a situação moderna o prova. Mas, fora isso, a própria natureza da luta faz que esta proposição seja inevitavelmente verdadeira. Como? A própria natureza do homem toma absolutamente inevitável uma guerra. O erro fatal que constantemente se comete acerca do homem é considerá-lo unicamente como intelecto e mente; e, portanto, toda a base do ensino secular é que tudo de que se necessita é falar aos homens acerca da natureza má de certas coisas e das más conseqüências de sua prática, e então eles pararão de praticá-las. Inversamente, se lhes dissermos que pratiquem certas coisas porque são retas, boas, verdadeiras e nobres, eles se lançarão empós delas e as praticarão. Que ignorância da natureza humana! Não sou eu somente quem fala assim. Interessei-me recentemente em ler uma resenha de parte da autobiografia de um bem conhecido escritor moderno, um escritor cético e irreligioso, Leonard Woolf. A resenha foi escrita por outro cético literário, Kingsley Martin. Mas, o resenhista, não obstante, tinha chegado à conclusão de que o problema com toda esta escola a que pertence Leonard Woolf é apenas este, que não enxergam que, no principal, o homem é irracional. Ele usou o que me pareceu uma ilustração muito boa. “O que Leonard Woolf e todos os seus companheiros, tais como Bertrand Russell e outros, nunca puderam captar é isto”, disse ele, “que o homem é uma espécie de “iceberg”. Acima da água fica certo volume, talvez cerca de um terço, que pode parecer muito branco, no entanto abaixo da superfície ficam dois terços fora de vista, nas profundezas, na escuridão. Escritores como Leonard Woolf, diz Kingsley Martin, não compreendem que o homem é dominantemente irracional. O que ele quer dizer, naturalmente, é que o homem não é governado por sua mente, por seu intelecto, por seu entendimento, e sim por seus desejos, ímpetos é instintos, por aquilo que os psicólogos chamam “impulsos”. Estas são as coisas que controlam e dominam o homem; e o problema que confronta o mundo na era presente é o desses “impulsos” instintivos. Pode-se ver isso tudo no plano nacional e internacional, como também no caso do indivíduo; e é isso que toma tão infantilmente ridículas todas as afirmações otimistas sobre alguma organização mundial, de que iria eliminar a guerra. A guerra é pura loucura, de qualquer ponto de vista. É desperdício de dinheiro, é desperdício de vidas, é uma maneira infantil de resolver contendas e problemas. Como se pode resolver um problema do governo ou qualquer outro problema simplesmente matando-se uns aos outros? Eu repito, a guerra é pura doidice; não há nada que se possa dizer em seu favor. Então, por que as nações brigam e se preparam para a guerra? A resposta é que não são governadas por suas mentes e intelectos, mas pelos dois terços que estão debaixo da superfície, a parte do “iceberg” que não se vê — ambição, avareza, orgulho nacional, desejo de posse e de se tomar cada uma maior do que as outras. São sempre estas coisas que causam guerras. “Donde vêm as guerras e pelejas entre vós?”, indaga Tiago. “Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? ” (Tiago 4:1). Esse é um fato, quanto a indivíduos e quanto a nações; e desde que é um fato, segue-se que nada, senão aquilo que possa lidar com estes dois terços poderosos e ocultos, pode realmente providenciar um remédio para a situação. O evangelho reivindica que ele, e só ele, pode fazê-lo. Não há nenhuma outra coisa que o possa. Subseqüentemente, consideremos o inimigo que se levanta contra nós. “Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais damaldade, nos lugares celestiais.” “Revesti-vos de toda a armadura de Deus”, diz o apóstolo, “para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.” Erga todos os seus projetos e ensinos morais contra as ciladas do diabo, e ele sorrirá para você com desprezo. Claro! Quão completamente inadequado tudo isso é! Desenvolveremos este ponto mais tarde. Ademais, consideremos o padrão que nos pedem que atinjamos. O cristianismo não diz apenas que sejamos amáveis, bons, limpos e de bom nível moral. O cristão não é simplesmente uma pessoa gentil e respeitável. Por pensarem que a simples respeitabilidade é cristian ismo, muitos abandonaram a Igreja. Dizem eles que esse resultado pode ser obtido fora da Igreja, e apontam para pessoas amáveis, bondosas e com boa moral, que não são cristãs. E esse argumento é perfeitamente válido. Entretanto, a resposta é que isso não é cristian ismo. O cristão não é uma pessoa que apenas não faz isto, isso e aquilo. O cristão é positivo. Ele é chamado para ter “fome e sede de justiça”; para ser “limpo de coração”; para ser “perfeito como perfeito é o seu Pai que está nos céus”. Isso é cristianismo! Ser como Cristo, viver como Ele viveu! E no momento em que você considerar o padrão, verá como são completamente impossíveis e inadequadas todas estas outras sugestões propostas. Podemos, pois, resumir tudo afirmando aberta, franca e confessadamente, sem envergonhar-nos, como implicitamente o apóstolo faz nesta passagem, que este, e somente este, é o único caminho da vitória e do triunfo. E por ser assim é que o Filho de Deus veio ao mundo. Se alguma outra coisa pudesse ser suficiente, ele nunca teria vindo. Jamais teria havido a Encarnação, e menos ainda a morte na cruz, se isto não fosse verdade. “O Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” Este é o princípio, o alicerce e a base da posição cristã. Em certo sentido Cristo veio porque Ele tinha que vir para haver salvação. Veio porque o homem falhara completamente. Sabedoria de Deus, cheia de amor! Quando tudo era pecado e só vergonha, veio o segundo Adão para combater e para ser o nosso Redentor. Este foi e continua sendo o único caminho; não há outro. Que o mundo, com a sua suposta sabedoria, lhe chame “estreiteza mental”. Enquanto agir assim, ele continuará a degenerar moral e eticamente, e a cobrir-se de chagas em sua iniqüidade. O caminho cristão é o único caminho. Agora vamos considerar um segundo ponto geral. Pela declaração do mestre que estamos analisando, vemos que o cristianismo está sujeito a ser mal compreendido e, infelizmente, isso é uma coisa que tem acontecido repetidamente através dos séculos. Nada há tão trágico e triste como compreender erroneamente o cristianismo e a mensagem cristã. Há pessoas que, como este professor de educação, estão muito dispostas a dizer: “A Igreja tem que fazer a sua contribuição. Talvez o cristianismo seja a melhor esperança de que dispomos. Não é nossa única esperança, porém talvez seja a que tem maior probabilidade de levar a resultados, de modo que a Igreja tem que desempenhar o seu papel.” Os governos estão prontos a dizer isto em ocasiões de crise. Quando o problema se toma insolúvel, eles dizem: “Pois bem, agora, que é que a Igreja tem para dizer?” E esperam que a Igreja faça algumas declarações gerais que melhorarão o tom moral da sociedade. A Igreja tem que desempenhar o seu papel! Sim, mas esta atitude revela, como digo, uma completa ignorância quanto ao que é realmente a mensagem da Igreja. Tem havido duas principais espécies de incompreensão neste con texto particular. A primeira é que o cristianismo e sua mensagem não passam de um ensino que nós mesmos temos que aplicar. Isso está na raiz do entendimento errôneo do mestre cuja declaração estamos examinando. Éuma falácia muito antiga. Foi o real problema do início do século dezoito, antes da ocorrência do grande Despertamento Evangélico. Foi a falácia total dos chamados deístas, e doutros. Ele diziam que Deus criou o mundo como alguém que fabricou um relógio, deu-lhe corda, e depois não se preocupou mais com ele, exceto no sentido de que Ele lhe havia dado certo ensino moral. Assim, mera mente equiparavam o cristianismo com um ensino e uma moralidade que instruem as pessoas a viverem uma vida saudável. Thomas Amold, diretor da famosa escola pública da cidade inglesa de Rugby no século dezenove, foi culpado de cometer exatamente a mesma falácia: esse foi também o seu ensino. Às vezes este é conhecido como “religião de escola pública”, e ensina que cristianismo é aquilo que faz do indivíduo “um pequeno e bondoso cavalheiro.” Basta abster-se de certas coisas e praticar outras. Isto não passa de ensino ético, moral. Ora, isto era uma trágica incompreensão da posição toda, pois considerava o cristianismo apenas como um ensino entre vários, por exemplo, os de Platão, Sócrates, Aristóteles, Sênica e outros, que ministravam ensinamentos morais, idealistas, elevados. Segundo aquele conceito, o cristianismo é apenas um outro ensino, e talvez o melhor de todos; daí, devemos dar-lhe muita atenção. E não nos esqueçamos de que o finado Sr. Gandhi, de época recente, sustentava um ensino muito elevado e nobre; e existem vários outros. Eles acrescentam à sua lista de grandes mestres o nome “Jesus”, como Lhe chamam, e geralmente Ele vem nalgum ponto próximo do centro. Alguns são postos em posição superior a Ele, outros são considerados inferiores a Ele. Mas esse ensino e discurso simplesmente reduz o cristianismo a nada mais que um ensino ético, um ensino moral — apenas uma variante do tema da “Bondade, Beleza e Verdade” a que devemos aspirar. Justamente porque verdadeiras multidões consideram isso como cristianismo, principalmente do século atual, é que a Igreja está como está. Esse foi o ensino da escola teológica denominada “Modernismo” ou “Liberalismo”, que penetrou na Inglaterra em meados do século passado. Seu tema era “o Jesus da história”. Eles eliminaram os
milagres, na verdade todo o elemento sobrenatural, e a expiação substitutiva. Quem é Jesus? “Ah”, eles diziam, “Jesus é o maior mestre religioso que o mundo já conheceu. Ouça o Seu ensino, imite o Seu exemplo, siga-O; se você fizer isso, será um bom cristão. Não se preocupe com doutrinas; elas não são importantes; o que importa é o ensino de Jesus.” Assim o cristianismo foi reduzido a um código e um ensino de ética e moral. Isso leva inevitavelmente ao fracasso e à ruína, pois deixa toda a ação conosco como indivíduos. Obrigam-me a admirar esse ensino, depois requerem que eu o aceite e em seguida tenho que começar a pô- lo em prática. A questão é deixada inteiramente comigo. “Mas”, dizem eles, "olhe para o exemplo de Jesus.” O exemplo de Jesus? Não conheço nada que seja tão desanimador como o exemplo de Jesus! Quando contemplo Sua estatura moral, Sua perfeição absoluta, quando O vejo andar sem pecado por este mundo, sinto que já estou condenado e sem esperança. Imitação de Cristo? É o maior absurdo jamais proferido! Imitação de Cristo? Eu, que não consigo satisfazer a mim mesmo e às minhas próprias exigências, e menos ainda às exigências alheias — devo imitar a Cristo? Os santos me fazem sentir vergonha de mim mesmo. Leio sobre homens como George Whitefield e outros, e sinto que nem sequer comecei. E, todavia, me dizem que devo tomar este ensino ético do Sermão do Monte, este ensino social idealista, e pô- lo em prática! “É tão maravilhoso”, dizem eles, “isso lhe será estimu lante; olhe para Ele e siga-O!” Não é de admirar que o resultado tenha sido um fracasso, e que muitas pessoas estejam abandonando a Igreja; não é de admirar que nos defrontemos com um colapso moral neste país e em todos os países na época atual; pois o ensino ético não cristão deixa isso tudo comigo, embora eu seja destituído de força e de poder. Assemelho-me ao apóstolo Paulo por natureza, e digo: “Ah, com minha mente vejo o que é certo, mas acho outra lei em meus membros que me arrasta para baixo. Com minha mente recebo, aceito e admiro a lei de Deus, porém há esta outra lei, esta outra coisa, agindo dentro de mim e me fazendo cativo da lei do pecado e da morte que está dentro de mim” (cf. Romanos 7:14-15). Há essa terça parte do “iceberg”, por assim dizer, acima da água e voltada para o sol; mas estou ciente dos outros dois terços que me arrastam para baixo, para o fundo e para a escuridão. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará?” Essa é a situação inevitável. Se o cristianismo é apenas um ensino moral, um ensino ético, é tão inútil como todos os demais. Está provado que o caminho “cristão" é inútil toda vez que o reduzem a esse nível. O cristianismo, no entanto, não é um simples código de ética. Os nossos educacionalistas não podem pura e simplesmente virar-se para nós e dizer-nos: “Muito bem, pois; vamos lá, vocês, representantes da Igreja cristã. Não sejam bitolados, mas venham dar-nos o seu auxílio, o seu ensino; queremos saber o que vocês pensam sobre sexo e sobre muitos outros fatores da vida.” Respondo que o que é preciso não é o que eu penso sobre sexo, e sim um poder que liberte o homem do domínio e do controle exercidos pelo sexo. E vasto o conhecimento sobre sexo. Ah, as pessoas de hoje sabem demais sobre sexo; sabem muito mais do que os seus antepassados. Estão lendo livros sobre isso — romances, livros escolares, etc. — e quanto mais lêem, piores ficam. Essa leitura só serve para agravar o problema. Não é de conhecimento que precisamos; é de poder. E é aí que os sistemas ético-morais sucumbem e falham completamente. Eles não têm nenhum poder para oferecer, absolutamente nenhum. Portanto, devemos tomar cuidado para não reduzir o cristianismo a mero ensino ético-moral. Não permita Deus que alguém ainda seja mantido nessa ignorância e cegueira! Todo esse ensino foi experimentado exaustivamente durante cem anos ou mais, e falhou completamente, tanto no caso dos indivíduos, como também nas esferas nacional e internacional. Mas devo dizer uma palavra acerca da outra forma de incompreen são. Aqui, de novo, há uma história interessante e fascinante. Há os que dizem: “Não, não basta apresentar este ensino aos homens e dizer-lhes que o levem avante, porque as forças contra nós são demasiadamente grandes. Estamos contra o mundo, a carne e o diabo. Há tudo aquilo de que somos conscientes dentro de nós mesmos e, então, quando anda mos pelas ruas e vemos os cartazes e os anúncios, e lemos os jornais, o pecado se insinua e nos tenta. Vemos isso por toda parte ao redor de nós, nas propagandas, nas roupas e em tudo que caracteriza a vida de uma grande cidade, tal como a nossa! Como podemos lutar contra tudo isso?” “Não”, dizem eles, “só há uma coisa que fazer. Se a pessoa quiser salvar a sua alma e viver uma vida saudável e pura, terá que livrar-se disso tudo, terá que segregar-se.” Noutras palavras, o segundo tipo de incompreensão do ensino cristão é aquele que podemos resumir sob a idéia de monasticismo. Aí está uma história maravilhosa. Há algo acerca das pessoas que deram surgimento à idéia monástica (na cristandade) que provoca a admiração da gente. De qualquer forma, eram homens sérios e preocupados com as suas almas, com as suas vidas e com o seu viver diário. Isso foi a maior coisa da vida deles; tanto assim que eles renunciaram à profissão, renunciaram ao lar, renunciaram a tudo que lhes era caro e se retiraram para um mosteiro, para terem ali o que eles chamavam de vida “religiosa”. A idéia era que a única maneira pela qual eles poderiam travar esta batalha era afastar-se do inimigo o mais possível. Pois bem, há nesse princípio alguma coisa certa e verdadeira, como explicarei. O apóstolo Paulo, dirigindo-se aos romanos no capítulo 13 da sua epístola, diz: “Não tenhais cuidado da carne” (ou, na versão utilizada pelo autor, “Não façais provisão para a carne”, versículo 14.) Seria bom para todos nós se tomássemos menos tempo lendo os nossos jornais, mantivéssemos o nosso olhar diretamente para a frente quando anda mos pelas ruas, não olhássemos para certas coisas e não fôssemos a certos lugares. Até aqui, ótimo! Mas certas pessoas levaram isso para mais longe; elas diziam que precisamos sair do mundo. Temos que concentrar-nos somente nisto, precisamos renunciar à maneira comum de viver, e isolar-nos; precisamos ir para um mosteiro ou tomar-nos eremitas a viver no alto de uma montanha, ou retirar-nos para alguma cela num lugar qualquer, sendo esse o único meio de escape. E nem aí elas param. Dizem essas pessoas que precisamos sujeitar o nosso corpo, pelo que temos que jejuar duas vezes por semana, talvez três. Temos que fazer outras coisas também, talvez vestir uma camisa de pelo de camelo e golpear e abater de várias maneiras este nosso corpo e insultá-lo quanto pudermos. Elas se entregavam ao que era deno minado “flagelação”; batiam nos seus próprios corpos, escarificavam sua came, tudo na tentativa de sujeitar estes poderes que estão contra nós neste grande combate de que Paulo está falando. A melhor descrição que já li de tudo isso acha-se num livro intitulado “Visão de Deus” (The Vision ofGod), as Preleções Bampton proferidas lá por 1928 por Kenneth E. Kirk. Vê-se ali uma narrativa de como surgiu essa idéia, e isso num período assaz primitivo da história da Igreja. E essa mesma escola de pensamento tem persistido de lá para cá. Isso, reitero, não é cristianismo, e pelas seguintes razões: ainda que você abandone o mundo e todas as suas possibilidades, e vá viver como monge ou eremita numa cela; ainda que você tenha abandonado o mundo, não abandonou a si próprio — as duas terças partes submersas do “iceberg” continuam com você! Você não deixa a sua natureza pe caminosa fora do mosteiro. As más imaginações e os maus pensamen tos continuam com você; não pode livrar-se deles. Aonde quer que você vá, eles vão; o seu próprio ser, a sua natureza, esta parte que o arrasta para baixo estará com você na cela exatamente como estava com você quando caminhava pelas ruas da cidade. Não somente isso; os poderes do mal também estão ali tanto quanto estavam em sua companhia quando você convivia com outras pessoas. “Porque não temos que lutar contra a came e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Muralhas de pedra não os manterão fora, barras de ferro não os manterão fora, portas trancadas não os manterão fora; onde quer que você esteja, ali estarão eles. Eles são espirituais, são invisíveis, podem penetrar em todo lugar, e estão com você na sua cela. Você não pode livrar-se deles. E por estas razões, o grande sistema do monasticismo finalmente ruiu completamente (embora noutros países não tão completamente.) Toda essa problemática pode ser resumida com a história de uma pessoa, Martinho Lutero. O que foi exatamente que Lutero descobriu? Ele era um monge, lá em sua cela, jejuando, afadigando-se, orando, tentando livrar-se do corpo, tentando vencer estes inimigos espirituais. Mas quanto mais tentava, mais parecia aproximar-se do fracasso completo e do desespero total. E por fim ele enxergou! Suas idéias monásticas eram o inverso do cristianismo; não eram cristianismo, de modo nenhum. O cristianismo era uma coisa essencialmente diferente. Ele viu que poderia ser cristão em pleno mundo, poderia ser um cristão “varrendo o soalho”, como ele o expressa. Você não precisa ser cenobita, não precisa tomar os votos de castidade e permanecer solteiro, para ser um pregador. Não. Como casado, você é tão elegível como aquele que renuncia ao sexo. De repente Lutero viu que o caminho monástico não era o caminho de Deus, e esse foi o começo da grande Reforma Protestante. Graças a Deus, aquilo de que Lutero teve que se desfazer não é o ensino cristão, pois o fim lógico do argumento monástico é que você não pode ser um cristão verdadeiro e continuar vivendo no mundo. Naturalmente, a igreja católica romana não ensi nava isso, porém dividia os cristãos em “religiosos” e “leigos”, e ensinava que estes podiam receber ajuda apropriando-se do excesso de justiça ou retidão daqueles — a doutrina completamente antibíblica da supererrogação. Vê-se quão essencialmente isso difere do ensino do Novo Testamento. Aqui vamos gente comum, servos, escravos, mari dos, esposas, pais, filhos. O apóstolo não lhes diz: “Saiam todos vocês para um mosteiro; tratem de ir para algum lugar fora do mundo”. Nada disso! Graças a Deus que não é isso. Isso seria um evangelho só para os ricos. E não somente isso; não haverá confissão cristã e testemunho cristão no mundo. Que negação é isso, em última instância, da glória da fé cristã! Qual é o método cristão? Concluo com um texto. Não se trata de, “Procure imitar a Cristo, adote o Seu ensino ético-moral e tente pô-lo em prática”. Não se trata de, “Retire-se e faça-se monge ou eremita”. Mas, simplesmente onde você se encontra, em pleno mundo, com a mal e o pecado a rodeá-lo desenfreadamente, e toda gente e tudo quanto há fazendo o que podem para desanimá-lo e arrastá-lo para baixo, sim plesmente como você está e onde está, “Fortalecei-vos no Senhor e na
força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.” Não é retiro, não é fuga, não é tentar fazer alguma coisa impossível. Não. É este evangelho sobrenatural, miraculoso, que nos capacita a sermos “mais que vencedores” sobre tudo que se põe contra nós. Tratei disso tudo por causa da terrível incompreensão do cristia nismo que se vê nos jornais, e por sua incapacidade de entender a própria base da fé cristã. Graças a Deus, esta nossa fé é inteiramente diversa do que os homens imaginam. É sobrenatural, é “a vida de Deus na alma do homem”, e, sendo assim, coloca diante de mim, não somente uma esperança; oferece-me uma vitória segura e certa.

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